
Muito se fala sobre a importância da redação nos vestibulares, concursos e ENEM. Há muitos professores dando aulas, muitos perfis dedicados no Instagram, muitos cursos online e as (hoje ainda em suspenso) aulas presenciais.
Obviamente, são mais do que corretas essas preocupações. Todavia, muitas vezes se pensa na redação de uma forma reducionista, sem pensar em seu caráter universalista e no que ela representa em termos de sistema de pensamento que referenda a construção do conhecimento.
O caráter universalista tem a ver com a construção ampla do saber, em seu caráter mais humanista, mais “Renascença”, “Iluminismo”. A grade de matérias tanto do Ensino Fundamental I e II e do Ensino Médio visa, a princípio, tecer um vasto panorama de referências que permita, inclusive, a escolha de uma área e profissão.

Em termos de um sistema de pensamento, a redação é um modelo linear de construção do raciocínio, pautado na expressão escrita e que demanda uma progressão bem organizada e coerente, além de elementos de coesão. A delimitação mais básica da organização do texto em “introdução”, “desenvolvimento” e “conclusão” é claro sinal disto.
A introdução é uma apresentação do tema de maneira mais generalista e que deve culminar na tese, a opinião a ser defendida. O desenvolvimento é a defesa da tese e do que ela expressa, preferencialmente com apoio em um repertório sociocultural elaborado e com bons raciocínios dele derivados. A conclusão é o fechamento, que deve ter a retomada a tese e um viés de encerramento da discussão, sendo que no ENEM se pode, ainda, apresentar as propostas de intervenção.
Essa estrutura, com os devidos resguardos, é a mesma de um trabalho acadêmico, como um artigo, uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Além disso, a tríade “introdução-desenvolvimento-conclusão” é um modelo que pauta toda e qualquer apresentação de conteúdo que seja digna deste nome.
Pense num filme, por exemplo: há a abertura da história, em que se INTRODUZEM os espectadores ao contexto e ao que está acontecendo; há o DESENVOLVIMENTO da narrativa, com seus eventos e conflitos; e há a CONCLUSÃO da obra, em que se definem os rumos de tudo. No campo das linguagens, nada – ou quase nada – é de uma área só.

Portanto, é fácil notar o quanto saber escrever uma boa redação é importante, não apenas para se atingir uma boa nota. Quem sabe escrever bem, certamente, terá mais facilidade para entender e produzir textos e apresentações em diversos formatos nas faculdades e universidades, em QUALQUER que seja a área escolhida.
Alguém que passa em um concurso público, para QUALQUER cargo, terá mais facilidade em desempenhar corretamente e com destaque suas funções, sendo mais hábil em entender e atender demandas e na produção de documentos de trabalho (comuns, por exemplo, na área jurídica); com isso, terá maior capacidade de galgar degraus baseados em mérito. E é por isso que a redação não deixará de ser importante e por isso que seu estudo e aprendizado deixam raízes e diretrizes que acompanham xs estudantxs por toda a sua vida, abrindo mais possibilidades àqueles que a dominam melhor.